Camisa do Cruzeiro é no

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"Claro que volto!! Claro que fico!! Com a alegria e a emoção de estar outra vez na nossa segunda casa!"

Sorín

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Entrevista ao Hoje em Dia

Em entrevista exclusiva, o argentino, ídolo da torcida cruzeirense, fala de vários assuntos e de planos futuros

Pérsio Fantin, Pedro Artur e Alexandre Simões

Eugênio Moraes



Como você se sente nesses dias que antecedem sua despedida do futebol?
Já aposentei. Já estou vivendo como um “aposentado” que vai ter uma festa de celebração de seu último jogo. Esta é a verdade. Mas com muita emoção pelo que vai acontecendo. Pelas mensagens, pelo carinho na rua. Mas, fundamentalmente, por coisas que vão surpreendendo a gente, até mesmo os convidados que estão vindo para o jogo. A disposição deles para virem numa época difícil, fim de ano, pelos compromissos. Mas, seguramente, depois do jogo é que vai cair a ficha dessa decisão. Foi pensada, mas também não foi fácil.


Como é, depois de muitos títulos e 15 anos de carreira, iniciar uma nova vida?
Não estou preocupado com isso. Lógico que vou sentir saudade, vai bater um momento de tristeza, de muitas lembranças. Mas sempre fui de viver dia a dia, curtir muito. E me entregar muito, assim como nos treinos, como nos jogos. Eu nunca me queixei da vida de jogador, como agora também vou curtir muito a minha família e os projetos que tenho e que precisarão ter relação com a paixão.


Você disse que algumas coisas estão te surpreendendo nessa sua despedida. Algo a ver com o torcedor?
O torcedor me surpreende todo dia. Desde pessoas quemandam cartas, mensagens, bandeiras, camisas com rostos, coisas que eles mesmos criaram. Tem um monte de história. E acho que chega o momento de se aposentar e olhar para trás e ver o caminho... A repercussão, o respeito internacional é uma coisa que mexe e enche de orgulho. Reportagens bonitas na Espanha, reconhecimento na França, na Itália, onde não joguei tanto. É uma coisa assim que marca.


Houve algo marcante que levasse a essa sua identificação com Belo Horizonte?
Duas coisas têm muito a ver com minha história aqui. Primeiro, escolher um time grande, pela história e por sua realidade. Chegar aqui e ganhar logo uma competição como a Copa do Brasil me marcou para tentar cada vez ser melhor, cada vez ganhar mais títulos. Outra coisa são as pessoas, os amigos que fiz. Na vida, temos muito a ganhar com relacionamentos.


O mineiro é diferente?
Acho que o mineiro é diferente. Acolhe muito bem, desconfia também (risos). Desconfiado no início, mas, depois, abre o coração.


Você esperava uma relação tão apaixonada da torcida com você?
Não. Claro que não. Foi uma grande surpresa para mim. Já vivi épocas de muita identificação com time. O Argentinos Juniors é minha casa, porque nasci lá. Minha passagem pelo River Plate também foi muito forte, porque ganhamos muitos títulos, a identificação foi mais com o time, que tinha grandes ídolos como Francescoli, Salas. Essa coisa de ídolo pessoal aqui, jamais esperaria, por ser argentino. Esse é um terceiro fato, ser tão querido me fez voltar a Belo Horizonte. Estou cheio de orgulho, sempre tento retribuir. Agora, com um jogo de festa; a ideia é ser solidário.


Você vai morar em BH? Ou vai ficar com um pé aqui e outro em Buenos Aires?
A primeira ideia é morar aqui. Até pela família de sangue e a família da vida. Depois, também vai depender muito dos projetos, sejam meus ou da Sol (sua mulher).


O Cruzeiro diz que já lhe ofereceu um cargo. Você já sepropôs a ser embaixador do clube no exterior. Que tipo de projeto está pensando para a partir de quinta-feira?
Um deles é fazer um curso de treinador, outro é aquela ideia de ser embaixador. Vou decidir com calma.


Ser treinador te atrai ?
Atrai mais. Mas acho que tenho que fazer um curso, preciso ganhar experiência.


Começaria na base?
Não sei se passaria pela categoria de base ou por um clube de outro lugar.


Treinaria o Atlético?
Jamais. Mas se amanhã abrisse uma porta para treinar um time sem tanta pressão poderia ser uma experiência legal. Primeiro tenho que decidir ser treinador, acho que é um caminho. Uma vez que você escolhe, deve ter muita certeza.


Em 15 anos de futebol, o que te marcou mais? Qual jogo é inesquecível? Você jogou duas Copas (2002 e 2006). Em 2002, a Argentina era favorita ao título. Ficou algum tipo de frustração por não ter sido campeão do mundo?
Cumpri muito mais, fui além do sonho. O sonho era jogar um dia no Argentinos Juniors e, quem sabe, na seleção. Aí, começou a carreira e foi tudo muito rápido. Passaram-se 15 anos e estamos falando aqui. Então, a realidade superou muito o sonho. Mas depois, quando você começa, quer cada vez mais e coloca metas. Minha meta sempre foi de títulos, de glórias, de ter paixão no coração. O único queficou como matéria não cumprida foi não ser campeão mundial com a seleção principal. Fui com a sub-20, até levantando a taça, que é uma sensação única e que voulevar para sempre.


Vamos falar um pouco de literatura, já que você marcou também por ser um jogador ligado à cultura. O que você está lendo?
Agora estou lendo “Como criar filhos” (ele tem uma filha, que se chama Elizabetha). Estou correndo com esse jogo de despedida. Não sobra tempo para nada. Agora, falando sério, tenho sempre um tempinho para ler, por dia, um conto. Tenho sempre um Cortázar. Bioy Casares gostei muito, mas se tem que colocar um favorito, é o Cortázar. No caso de romances, gosto de García Márquez. Depois, tem um argentino, Osvaldo Soriano, que escrevia muito simples, popular, e outro, Roberto Fontanarrosa.


E literatura brasileira?
Ainda sou novo nisso. Tem Jorge Amado, gosto da poesia do Leminsk, gosto do Chico Buarque escritor e compositor, acho um cara genial.


Hoje você gosta mais de samba do que do tango?
Gosto de tudo. Em casa, tenho aquele aparelho para tocar vários estilos, mas sempre um tango. Há o Roberto Goyeneche, para mim um dos melhores da história. Tenho um disco de samba do Vinícius e Toquinho, feito nos anos 70. Acho que estava todo mundo exilado, uma dupla muito legal.


E o rock argentino?
Sou defensor do rock argentino. Tem Patricio Rey,Margas...


Parecido com o brasileiro, Titãs, por exemplo?
Não vou fazer comparações. Acho que Titãs também tem uma história bacana. Esses grupos fazem parte de uma geração parecida, tem Divididos, que se separou do grupo chamado Sumo. O vocalista morreu e ele foi dividido. Tanto Sumo, como Dividido, Patricio Rey e Wagner Brito, que curto.


O Skank, que é uma banda mineira de rock, vai fazer a festa em sua despedida...
Somos amigos. Vai ser um espetáculo único. Fazer um show de uma hora com o estádio lotado vai ser bom demais para o público e para eles também.


Você sempre militou nesse meio artístico, cultural ou é uma coisa mais esporádica?
Na Argentina, tínhamos um programa de rádio às segundas-feiras à noite. Eu jogava no River e a única condição era de que não se falasse de futebol. Falava de cultura, música, colocávamos rock argentino. Sempre gostei de teatro, de cinema.


Você tem o projeto de escrever um livro. Será sobre futebol ou ficção?
É uma surpresa. Tem muito futebol, mas também algo que ninguém espera. Mas não será uma crônica sobre futebol. Vai ser, certamente, mais ficção.


Como você vê a América Latina. Essa guinada mais à esquerda, a integração em torno do Mercosul?
Acho que a América Latina está muito mais social. Com operfil de crescer unida, com perfil mais social. Coisas que nos faltaram no passado, quando havia a ditadura. É um poder que a América Latina conquistou sem precisar ser tão radical. E uma coisa mais evoluída, até porque somos mais novos do que a Europa. Aqui, precisamos lutar desde cedo. Lá, eles não são assim. Estamos num caminho muito importante. Acho que a América Latina é o futuro do mundo. O futuro está aqui.


Fale sobre personalidades argentinas. Gardel, Evita Perón, Guevara, Jorge Luis Borges, Maradona...
Gardel foi o primeiro grande embaixador de nossa música e ficou maior do que o tango. Evita, uma mulher avançada, com povo no sangue. À frente do seu tempo naquilo que hoje ficou comum, a mulher no poder. No caso de Guevara, penso que pode morrer o homem, mas seu exemplo vai ficar para sempre. Vai haver quem goste e não goste. Mas foi atrás de seu ideal. Conseguiu revolucionar uma terra que não era sua, só para tentar melhorar. Morreu por seus ideais.


E Borges, Maradona?
Borges foi um grande nome da literatura argentina.Pessoalmente, acho mais difícil de ler. Sou mais popular.Acho que é mais elitista. Já Diego é a pessoa que deu mais emoção para o povo argentino como jogador. Para mim, o melhor jogador de futebol de todos os tempos, sem entrar em discussão (risos).


E como técnico da seleção?
Com a classificação para a Copa do jeito que foi, dramática, ele vai conseguir unir o grupo em torno doobjetivo. Como fez Felipão em 2002. A Argentina vai forte.

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